Mais Chomsky, mais manipulação…

Noam Chomsky tem escrito sobre muita coisa. Não somente sobre linguística, que é sua profissão dentro do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Li na totalidade um de seus livros: Ano 501: A Conquista Continua. Ali o norte-americano nascido na Filadélfia, em 1928, faz uma crítica da política externa dos Estados Unidos, considerando suas ações como parte de uma estratégia imperialista durante o século XX, como as invasões à Nicarágua e ao Haiti, no começo daquele século.

Mas Chomsky vai bem além da crítica às políticas externas norte-americanas em outro livro: Propaganda Ideológica e Controle do Juízo Público. Ele vai, na realidade, ao âmago daquelas políticas.

No texto do livro (na realidade uma entrevista) ele usa de referências teóricas e históricas, desde os tempos de Thomas Jefferson para demonstrar como os governos e corporações norte-americanas superam suas necessidades de manipular o público do qual necessitam do apoio, para manter não somente as políticas intervencionistas externas, mas também as internas (contra os movimentos operários, por exemplo).

“Nossa sociedade é muito baseada na elite. Sobre as últimas cifras que vi, cerca de um a cada seis dólares em toda a economia é gasto com marketing. Esse uso dos fundos é extremamente ineficiente. O marketing não produz nada, nenhum bem público. Mas o marketing é uma forma de manipulação e tapeação. Isso é um esforço para criar carências artificiais, para controlar o modo como as pessoas enxergam as coisas e pensam sobre elas.

Muito do marketing vem de propaganda ideológica politicamente correta, dos anúncios. A maioria está isenta de impostos, o que significa que o modo como o nosso sistema funciona é: você paga pelo privilégio de ser bombardeado com propaganda ideológica, de ter todo esse lixo jogado em cima de você. Essas não são quantias pequenas. Acho que foi um trilhão de dólares em 1992.

E, sim, quando você tem o grande compromisso de controlar as mentes, manipular desejos e fazer todas aquelas coisas que eles mandam nos livros de relações públicas, e eu não estou inventando, você pode ler isso em qualquer um desses livros e nos livros de ciências sociais, porque esse e um tema acadêmico padrão, quando você tem esses interesses, você vai dar duro por eles. E está ficando cada vez mais difícil lutar contra isso, tornando uma organização difícil. Você tem de quebrar uma quantidade bastante grande de resistência psicológica”.

Quando uso Noam Chomsky para mostrar como os governos e corporações norte-americanos se utilizam da mídia para manter seus ideais como referência para todo resto da sociedade é porque acredito no que ele fala. Assim, acredito, de verdade, que invariavelmente, tanto lá nos Estados Unidos, quanto aqui no Brasil, toda programação das TVs, por exemplo, é resultado de anos e anos de fortalecimento de uma ideologia.

Não a partir de uma Conspiração Secreta, mas de uma capacidade real de construção social. Dando sentido ao que ainda não faça sentido, ou re-construindo paradigmas. Através de um poder real. Poder que, com certeza, dá uma sensação de segurança também a boa parte do resto da sociedade, mesmo para aqueles que não se beneficiam concretamente dele.

Se não aprendemos na escola que durante cinco dias de 1919 os trabalhadores fizeram uma Greve Geral, em Salvador, por exemplo, que parou a cidade, e fez com que os empresários e governo tivessem que negociar com eles e lhes dar, pelo menos temporariamente, os direitos reivindicados, então poderemos ter a sensação de que os trabalhadores nunca conseguirão se organizar para que o tal Poder possa existir concretamente em seu benefício.

Portanto, se apoderar tanto da mídia, quanto do aparelho educacional, é uma forma de manter os pontos de vista de um grupo, como hegemonia, como prioritários. E é este, para mim, mais um motivo de entendermos o atual discurso da mídia.

Sobre cbaqueiro

Graduado em História e Jornalismo.
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4 respostas para Mais Chomsky, mais manipulação…

  1. Adailton Silva disse:

    É interessante, quando percebemos que uma gigantesca parcela daquilo que achamos que queremos e podemos, é na verdade aquilo que nos disseram que gotamos e podemos. O segredo para tentar diminuir esse problema é o conhecimento vindo das mais variadas fontes. Essa diversidade de informações associada a um posicionamento crítico, são as melhores armas contra essa prisão.

  2. Oliveira disse:

    Sofremos uma avalanche de estímulos comportamentais que afeta desde muito cedo nossa formação como pessoas ditas “pensantes”.
    Na educação formal, controlada pela casta superior, não temos nenhum incentivo para sermos críticos do que nos é apresentado, e não poderia ser diferente já que a intenção é o continuísmo do que está posto.
    É necessário sermos autodidatas do senso crítico.

  3. ray disse:

    Chomsky fala isso ao mesmo tempo que apoia os governos de fidel, chavés, etc.

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